Conheça a Casa das Caldeiras, um testemunho vivo da nossa história Agenda Cultural / História e Arte

Estar num lugar como a Casa das Caldeiras nos ajuda experimentar um pouco do passado comum a nós, cidadãos de São Paulo: o edifício é um testemunho vivo de parte da nossa história. O lugar  hoje sedia eventos, festas e também é ateliê de artistas.  Eu conheci nas festas que aconteciam  aos domingos, principalmente o @sambadosol. Infelizmente, as festas não acontecem mais, mas continua sendo cenário de alguns eventos e muitas histórias.

casa-caldeiras2Como então localizamos a Casa das Caldeiras na linha do tempo?

A Casa das Caldeiras celebra dias 17 e 18 de agosto, sua participação na memória dos paulistanos, abrindo suas portas gratuitamente entre 9h00 e 16h00 como parte da programação da Jornada do Patrimônio 2019, para visitação com 2 sessões diárias de monitoria sobre a história, oficinas e apresentações de processos de artistas convidados e artistas em residência que dialogam com o tema nossas histórias e memória, seja em forma de lembranças, memória afetiva ou imagens simbólicas.

:: Performance-coleta-pesquisa sobre a memória que reside nos materiais pelo artista residente Leo Ceolin no Salão Principal

:: Duomo com projeção oceanográfica “Mantas do Brasil” no Salão Principal – sobre o nosso patrimônio natural
:: Apresentação do vídeo Dúo Jurásico do artista residente venezuelano Víctor Gee Rosales no Túnel

:: Apresentação espetáculo “Arribar – Histórias de Beira de Caminho” da Cia dos Afetos (domingo 15h) no Salão dos Tanques)

#sobremonitoria: Monitoria sobre a História dias 17 e 18 de agosto
– Percurso de Deriva: 9h00
– Monitoria afetiva da Casa das Caldeiras: 14h00
O roteiro consiste em uma deriva pela Avenida Francisco Matarazzo, mais precisamente entre os viadutos Antártica e Pompéia. Passando pela Casa das Caldeiras e Casa do Eletricista, edificações remanescentes das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, seguindo em uma direção imaginada pelas outras fábricas que faziam parte do complexo.
Roteiro Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo

Duração: 3 horas
Lotação: 30 pessoas cada grupo
Inscrições: https://forms.gle/5L35ZQYdJQfZmH7H9

#sobreficina: Oficina de Fotografia da História – O registro arquitetônico das cidades com João Bertholini
A oficina será dividida em duas partes: uma conversa sobre o trabalho de fotógrafos brasileiros conhecidos pelos seus registros da arquitetura e história da cidade, e uma segunda parte prática, em que os participantes vão circular pelo espaço da própria Casa das Caldeiras (imóvel histórico tombado), e pelo centro da cidade, e fotografar, com o próprio celular ou câmera que possuir, prédios e lugares históricos. Por último, vamos olhar as fotos produzidas e discutir a diferença do olhar de cada um, e a importância de que esse registro tão único exista. João Bertholini – Fotógrafo com formação em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Foi residente na Casa das Caldeiras. Extensão da graduação em História Social da Arte, pela PUC-SP.
12 vagas Duração: 3 horas
Turma 1 – 17.08 (sábado) 9h00
Turma 2 – 17.08 (sábado) 13h00
jbertholini@gmail.com – sinalizar o horário desejado na inscrição

História

O bairro Água Branca se industrializou com a vinda das instalações do primeiro Parque Industrial IRFM (Industrias Reunidas Francisco Matarazzo) em 1920, transformando a paisagem rural em um ambiente fabril e operário.  O parque industrial trazia consigo a verticalização da produção, reunindo diversas fábricas. A presença de um ramal ferroviário colado ao terreno foi determinante para a escolha do terreno.

O ano de 1929 foi um ano de crise, onde muitas indústrias tiveram que fechar. O Bairro da Barra Funda viu a elite se deslocar e seus casarões se transformarem em cortiço. Restou basicamente a indústria artesanal, de pequeno porte.

Num terreno de 113.721m2 com uma área construída que passava de 96.000m2 o parque industrial produziu sabonetes (seção de perfumaria) e sacarias, óleos industriais para seu próprio uso, possuía mecânica e fundição, tudo isso sob a filosofia de aproveitar ao máximo a infra estrutura existente e alcançar autonomia.

Maquinário da Casa das Caldeiras Foto: Edu Prado

Maquinário da Casa das Caldeiras
Foto: Edu Prado

O “Império Matarazzo” cresceu, se expandiu pelo país, para então nos últimos anos enfraquecer e se extinguir em meados da década de 1980.  Matarazzo morreu em 1937 com 82 anos e, seu sucessor e filho, Francisco Matarazzo Jr. assume a missão de dar continuidade ao seu legado, implantando uma reforma administrativa com um novo sistema de gestão de negócios.

Em 1986, o CONDEPHAAT decidiu tombar as edificações remanescentes por seu valor simbólico, como marco referencial do que foi o complexo IRFM, uma vez que todos os outros edifícios tinham sido demolidos.

A Casa das Caldeiras e a Casa do Eletricista, como são hoje reconhecidas, faziam parte desta história, como construções remanescentes de um tempo.

Visita monitorada na Casa das Caldeiras com o grupo Passeios Baratos em SP Foto: Edu Prado

Visita monitorada na Casa das Caldeiras com o grupo Passeios Baratos em SP
Foto: Edu Prado

CASA DAS CALDEIRAS – antiga caldeiraria das IRFM

A Casa das Caldeiras faz parte da memória coletiva da Cidade de São Paulo, preserva em seu conjunto arquitetônico, a história de um período áureo, entre as décadas de 1920 e 1950. Uma cidade que crescia em ritmo acelerado, influenciada pela a industrialização e pelo tecnicismo Europeu, que refletiram os padrões urbanos e arquitetônicos da cidade e têm ligação direta com a vida econômica, social e cultural.

Exemplar típico da arquitetura fabril de caráter utilitário recebeu grandes janelas, pé-direito altíssimo, três chaminés monumentais que parecem ganhar os céus, túneis-galerias que remetem a passagens subterrâneas, fornalhas que eram alimentadas por carvão.

Vista de dentro da chaminé Casa das Caldeiras Foto: Edu Prado

Vista de dentro da chaminé Casa das Caldeiras
Foto: Edu Prado

O edifício das Caldeiras é formado por um conjunto de três caldeiras abrigadas numa grande nave, distribuindo em dois pavimentos a circulação, as dependências para atividades subsidiárias, além dos túneis e as comportas associados ao sistema de circulação de ar.

Observam-se três fases importantes de construção e ampliação durante o levantamento histórico da Casa das Caldeiras:

A primeira fase chega ao nosso conhecimento através da planta encaminhada em 1923 à Prefeitura Municipal, onde se desenhava um bloco único de alvenaria de tijolos. Possivelmente já se tratava de ampliação: uma provável construção anterior teria sido prolongada e seu alinhamento alterado. Desta fase persiste a estrutura principal, portante de alvenaria, embora desfigurada pela abertura de novos vãos e outros fechamentos.

Locomotiva da Casa das Caldeiras Foto: Edu Prado

Locomotiva da Casa das Caldeiras
Foto: Edu Prado

Em 1936, uma nova planta foi encaminhada para aprovação com ampliações e reformas, sem mudanças significativas na estrutura primitiva, tendo sido construídos novos fornos e caldeira, que exigiam uma outra chaminé edificada na extremidade oposta daquela já existente.

A ampliação de maior envergadura é executada em 1953, conforme plantas submetidas a aprovação da Prefeitura Municipal. Foi construído um corpo anexo para servir como reservatório de água para as caldeiras e, em continuidade, uma plataforma coberta por laje de concreto armado permitiu o aproveitamento do pavimento superior como depósito de resíduos. Novas caldeiras foram instaladas, substituindo as antigas, e por se tratarem de caldeiras de maiores dimensões a cobertura foi alteada, elementos vazados preencheram a diferença de altura nas paredes. Uma nova cobertura de telhas de fibrocimento foi instalada sobre estrutura metálica formada por tesouras. O lanternim e os elementos vazados foram recursos para proporcionar maior iluminação e exaustão do calor. Uma nova escadaria de acesso ao piso principal foi construída. Ainda nesta fase, o sistema de exaustão das chaminés precisou ser refeito, com a construção de uma galeria interligada de estrutura independente a laje e a alvenaria portante.

As sucessivas transformações pelas quais o edifício passou apontam para a dinâmica peculiar deste tipo de construção: uma plataforma de produção de energia para o parque industrial. Após sua desativação no final da década de 70, o espaço foi entregue ao abandono e esquecimento até que em 1998 participa da exposição “A Cidade e suas Histórias”, projeto concebido pelo Arte-Cidade, que questionava a relação da cidade com seus espaços urbanos degradados e abandonados.

Máquina Casa das Caldeiras Foto: Edu Prado

Máquina Casa das Caldeiras
Foto: Edu Prado

Em 1985 o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico Arquitetônico e Turístico do Estado de São Paulo) pediu o tombamento desse imóvel, na época já desativado, visando preservá-lo como documento arquitetônico da história da industrialização paulistana. No fim desse processo _ 1986, com revisões datadas de 1993 _ decidiu-se preservar um dos galpões da fábrica, a casa do Eletricista, o prédio de caldeiras e as três chaminés de alvenaria refratária, cujas alturas variam de 46 a 54 m e os diâmetros externos de 2,60 a 4,40 m, que complementavam a central de vapor.

Em 1998, após receber e apoiar a terceira edição do projeto ARTE-CIDADE, a Casa das Caldeiras recebeu obras emergenciais onde o telhado foi refeito, as janelas restauradas e vidros colocados, as chaminés foram lavadas, cintadas e suas bocas foram completadas. Em 1999, as obras de restauro e reciclagem do espaço que possibilitaram dar ao edifício um novo uso, foram concluídas. As características do edifício foram mantidas e as obras mais profundas de restauração limitaram-se, ana maior parte dos casos, à recomposição de elementos alterados.A partir da compra do terreno, pela empresa Ricci e Associados, em 1992, iniciou-se o planejamento de revitalização de todo o terreno (aproximadamente 100.000m2) e o estudo de viabilidade. O projeto de desenvolvimento urbano do terreno contou com a intervenção da Operação Urbana conseguindo agregar uma série de melhorias e valores para a área, concretizando o projeto de reciclagem e restauro dos imóveis tombados Casa das Caldeiras e Casa do Eletricista através dos arquitetos Marcos Carrilho e Victor Hugo Mori.

As sucessivas sobreposições e acréscimos sofridos pelo edifício foram conservados. A intervenção proposta buscou em síntese preservar a historicidade do objeto, os aspectos fundamentais foram mantidos como documento do processo evolutivo da atividade industrial.

Sob o aspecto simbólico, as chaminés são os elementos mais expressivos. A sua presença é a marca simbólica da presença da fábrica e atua como referência evocativa da intensa atividade fabril do lugar.

Grafite na Casa das Caldeiras Foto: Edu Prado

Grafite na Casa das Caldeiras
Foto: Edu Prado

Das três caldeiras remanescentes, apenas uma apresentava-se com todos os seus componentes. O critério de restauração adotado foi o de conservar uma das caldeiras, a que se encontrava mais integra, em seu estado original, com os reparos pertinentes, e uma outra caldeira seria mantida à mostra com todo o sistema de circulação de fluidos revelados, possibilitando assim o entendimento de seu funcionamento. A última caldeira apenas foi mantida e reparada com os poucos elementos estruturais restantes.

Maria Pia Matarazzo, neta do Conde Francisco Matarazzo assim escreve no livro que preparou para comemoração dos 100 anos das IRFM:

[…Nos 100 anos que ficam registrados neste livro está a memória de nosso passado, que estimamos importante para a toda a sociedade a cujo desenvolvimento estivemos sempre inteiramente ligados.

O pioneirismo não tem apenas vantagens, causa também ônus. Foi em decorrência dele que Matarazzo se tornou um nome ligado a quase todas as áreas de produção, comercialização e serviços. Mas novos são os tempos e é chegada a hora de mudar…]

Túnel na Casa das Caldeiras Foto: Edu Prado

Túnel na Casa das Caldeiras
Foto: Edu Prado

Foto destaque: Túnel dentro da Casa das Caldeira. Edu Prado

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Meu nome é Patrícia Ribeiro. Sou formada pela Faculdade Cásper Líbero e já trabalhei como editora e repórter em revistas, jornais, sites e em assessoria de imprensa. Adoro contar histórias, sou curiosa e gosto de ouvir as pessoas. Como gosto de viajar, acabei escrevendo muitas reportagens de viagens e turismo e produzi guias de viagem nacionais e internacionais. Adoro a vida cultural da cidade e descobrir lugares novos. Resolvi aliar o que eu gosto do que faço no meu tempo livre neste blog e compartilhar minhas dicas com moradores e visitantes.

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