Que o bairro da Liberdade é referência como maior reduto da colônia nipônica fora do Japão, todo mundo já sabe. Caminhar pelo bairro é como estar à parte do comum que vemos em São Paulo: observar as lanternas japonesas, as fachadas e jornais nas bancas escritos em ideogramas, os utensílios peculiares, o idioma, a alimentação.
Mas, alguém sabe como foi que tudo isso começou? Por que os japoneses imigraram para o Brasil? Por que escolheram se firmarem na Liberdade? Eu não tinha ideia de nada disso, mas um passeio por pouco mais de duas horas no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil respondeu todas essas questões e outros fatos curiosos conheci.
O objetivo do museu hoje é retratar a história vivida pelos imigrantes japoneses, que aportaram no Brasil em 1895, desde as primeiras impressões, dificuldades e, por fim, a consolidação de seus lugares aqui.
Dia 27 de julho Walking Tour na Liberdade com Museu da Imigração Japonesa
No passeio pela Liberdade que se inicia às 9h30 na estação Liberdade do metrô, você conhecerá a história do local, que já foi uma praça de enforcamentos no passado. Além dos orientais, o bairro também têm influência portuguesa e de outros imigrantes. Passaremos por lugares não tão conhecidos como uma vila portuguesa, templos budistas, restaurantes tradicionais, lojas que vendem quimonos e enfeites, padaria e sorveteria oriental. Inclui visitas a um Centro de Meditação, ao Jardim Oriental e à Feirinha da Liberdade, Museu da Imigração Japonesa (opcional, ingresso à parte) entre outros lugares interessantes. Faremos uma parada num café japonês. R$ 40. Inscrições: whatsapp 94562-3015 ou e-mail passeios@passeiosbaratosemsp.com.br
O início de tudo
Dividido em três andares, o museu conta, respectivamente, no 7º andar o início de tudo: como o governo brasileiro e japonês negociaram a vinda dos imigrantes para as fazendas de cafés, que andavam sem mão-de-obra, com o Tratado da Amizade. Neste andar, há uma réplica da primeira embarcação, Kasato Maru, com a primeira leva de imigrantes japoneses. E, muito diferente do que retratam, eles não chegaram aqui com quimonos ou hashis nos cabelos, antes mesmo de virem foram orientados de como era nossa cultura, inclusive, sobre vestimentas, ou seja, chegaram prontos para a nova realidade e cultura.
Fotografias e réplicas das cabanas, instrumentos de trabalho, retratam a realidade nas fazendas de café, as condições que foram impostas que era bem diferente quando chegaram aqui.
Trabalho no campo
No 8º andar, o enfoque é sobre a contribuição dos imigrantes japoneses na agricultura. Eles introduziram novas plantações, como: chá, rami, junco. E um novo formato de trabalho, o cooperativismo. Ainda nesse espaço, é dedicado ao momento delicado da relação Brasil-Japão com a Segunda Guerra Mundial: censura à língua japonesa e publicações periódicas. Esse corredor é mais escuro e em suas paredes estão vários jornais da época retratando a perseguição aos imigrantes, a censura, porém, ao final dele nos deparamos com um belíssimo e luminoso quadro de ipê amarelo, que é a árvore símbolo do Brasil.
A Imperatriz Mitiko recitou um poema certa vez intitulado “Estrada” sobre sua percepção do Brasil:
“Ao longo daquela longínqua estrada.
Percorrida por vocês, imigrantes.
No caminho difícil e vencido,
Oh! Quantas vezes até agora
Têm os ipês florescidos? ”
O pós-guerra
Saindo do período obscuro da história, chegamos no 9º andar, aonde o enfoque é sobre os 50 anos pós-guerra. Aqui se revela a consolidação de vez da cultura, as indústrias, produtos, casamentos entre japoneses e brasileiros.
Há também um mural panorâmico do pintor japonês Seiji Togo, que ficara impressionado com as condições difíceis dos imigrantes e sua contribuição “Paisagens do desbravamento dos Imigrantes” (1978) está exposta no 9º andar, onde, infelizmente, seu autor nunca pode ver, pois ele, faleceu dois meses antes da inauguração.
Além das exposições, há totens para assistirem documentários que contam os aspectos da vida e atividades dos imigrantes japoneses e, para os descendentes japoneses poderão identificar suas raízes no terminal no 8º andar, basta digitar o nome do imigrante, que o histórico da partida e chegada aparecerá.
Isso é apenas um pouco de todo material histórico que há no museu.
Façam o passeio com calma, apreciem o cuidado que tiveram em contar histórias, os detalhes de tudo e tenho certeza que depois disso andar pelo bairro da Liberdade vai ser mais interessante ainda.
Site Museu Histórico da Imigração Japonesa Rua São Joaquim, 381 – Liberdade, metrô São Joaquim
Tel.: (11) 3209-5465; De terça a domingo, das 13h30 às 17h00. R$ 10.
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03 ago 2020 - Agenda Cultural, bate e volta, Viagens por aí
Olá, Vilma !
Não imaginava haver pessoa mais apaixonada e conhecedora dos cantos, encantos e recantos da minha cidade natal, do que eu.
Aí, do nada, há 40 minutos, “conheço” você.
O seu Blog é, como eu poderia dizer…..SAMPAstico !
Amo SAMPA.
Parabéns.
Oi, Tadeu. Obrigada, mas o blog não é da Vilma, ela foi uma colaboradora e não escreve mais. O blog é meu, Patrícia Ribeiro, sou responsável pela escolha do conteúdo, edição e textos do blog, além de promover passeios culturais em São Paulo. Obrigada pelos elogios e continue acompanhando o blog.
Esqueceu de citar a influência dos negros no bairro, inclusive o nome Liberdade é por causa de um negro.
Sim, nós falamos isso no nosso passeio pela Liberdade, já foi?