Vila Maria Zélia
Divulgação É Grátis / História e Arte

As chamadas vilas operárias se popularizaram na cidade entre o fim do século 19 e o começo do 20. Concebidas para abrigar os funcionários próximos aos locais onde trabalhavam, as mais conhecidas foram erguidas na região dos bairros do Brás e da Mooca, nas imediações de grandes indústrias de famílias como Penteado, Crespi e Matarazzo. Em geral, além das moradias, também contavam com equipamentos como escolas e igreja, fora o armazém onde os moradores se abasteciam.

Vila Maria Zélia Wikimedia

Vila Maria Zélia
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DIA 13 DE OUTUBRO TOUR VILAS OPERÁRIAS DE SÃO PAULO D

Além da Vila Maria Zélia, outros recantos bucólicos pouco conhecidos do paulistano serão apresentados durante o tour, fazendo despertar no mesmo o resgate de um passado memorável. Pontos de passagem: Vila Maria Zélia, (PARADA) Vila dos Ingleses (PARADA), Vila Economizadora (PARADA), Vila Normanda, Vila Itororó, Vila Suiça, Travessa Ruggero, Jardim Francisco Marcos, Vila Queiroga, Rua Ilha das Flores, Vila Santa Clara, Vila dos Estudantes, Jardim Heloisa, Vila Aguiar de Andrade, Vila Bueno, Vila Buarque. Reservas:  passeios@passeiosbaratosemsp.com.br ou whatsapp 94562-3015.R$ 80 . Inclui transporte, guia de turismo e monitoria na Vila Maria Zélia. Duração: 4h30.

Dentre essas vilas, uma que se destacou foi a Vila Maria Zélia, que até hoje é a principal referência desse tipo de urbanização industrial em São Paulo. Sua concepção estava entre as mais avançadas da época, tanto em questões de projeto quanto da qualidade de vida que oferecia aos seus habitantes, tendo sido desenvolvida segundo preceitos de justiça e bem-estar sociais.

Vila Maria Zélia - Antigo Açougue Wikimedia

Vila Maria Zélia – Antigo açougue
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Erguida para os 2.500 funcionários da filial da Companhia Nacional de Tecidos da Juta no Belenzinho, bairro que então já abrigava outras fábricas e indústrias, a Vila Maria Zélia foi idealizada pelo médico e industrial Jorge Street, que buscou na Europa um arquiteto capaz de concretizar esse projeto quase visionário. Assim, o francês Paul Pedraurrieux se tornou o responsável pela obra, que teve como inspiração os conceitos de diferentes vilas operárias que estavam sendo construídas no exterior – sobretudo no seu próprio continente – naquele início de século.

Vila Maria Zélia - Capela São José Wikimedia

Vila Maria Zélia – Capela São José
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Após cinco anos de obras, a vila foi inaugurada em 1917 com a presença de personalidades políticas e industriais, e também com a bênção do então Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva. Suas instalações contavam com uma escola feminina e outra masculina, armazém, açougue, farmácia, restaurante, campo de futebol, salão de baile e a Capela São José.

Vila Maria Zélia - Antiga Escola de Meninas Wikimedia

Vila Maria Zélia – Antiga Escola de Meninas
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Pouco tempo depois, em 1924, Jorge Street vendeu a fábrica e a vila para a família Scarpa, que a renomeou Vila Scarpa. No entanto, com a crise econômica mundial de 1929, a vila é vendida novamente, dessa vez para o Grupo Guinle, que reassume o nome original de Maria Zélia, homenagem à filha de Jorge Street que morreu precocemente durante a construção do empreendimento.

Vila Maria Zélia - Antiga fábrica de calçados e chapéus Wikimedia

Vila Maria Zélia – Antiga fábrica de calçados e chapéus
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Na década seguinte, novas dívidas fazem o conjunto ser confiscado pelo Governo Federal, e em 1931 a fábrica é desativada, sendo reaberta somente em 1939 como Goodyear (curiosidade: nesse meio tempo, de 1936 a 1937, chegou a ser utilizada como cadeia para presos políticos do Estado Novo). A partir de 1968, os moradores passam a poder comprar os imóveis em que moravam, e em 1992 a vila é tombada pelo município e pelo estado de São Paulo.

Vila Maria Zélia - Antiga Escola de Meninos Wikimedia

Vila Maria Zélia – Antiga Escola de Meninos
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Completando 100 anos em 2017, o cenário da Vila Maria Zélia é hoje um misto de abandono e resistência. Alguns moradores das cerca de 171 residências estão por lá há muitos anos, e outros desde que nasceram, até. Diversos desses imóveis foram sendo descaracterizados com o passar do tempo, tanto que já não remetem mais em nada – ou quase nada – à arquitetura original; muitos outros, sobretudo os ditos “prédios funcionais” (como as escolas e o comércio, que ainda são propriedade federal) estão abandonados (o que, ironicamente, acabou ajudando a preservar o que restou das suas características iniciais, ainda que não se saiba até quando). 

Vila Maria Zélia - Antiga farmácia, hoje sede do Grupo XIX de teatro Wikimedia

Vila Maria Zélia – Antiga farmácia, hoje sede do Grupo XIX de teatro
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Mesmo assim, iniciativas culturais e de preservação estão ativas por lá, como a Sociedade Amigos da Vila Maria Zélia, fundada em 1981, a companhia de teatro Grupo XIX, que existe desde 2004, e a Associação Cultural Maria Zélia, responsável pela organização das comemorações do centenário da vila, que contou também com a abertura de um centro de memória local. É um retrato da história de São Paulo, existindo e resistindo.

Site Vila Maria Zélia. Rua dos Prazeres, 362. Ônibus: Linha 1206-10: Pq. Vila Maria – Correio; Linha 172N-22: Catumbi – Metrô Belém; Linha 2204-10: Jd. Guanca – Pça. da Sé; Linha 271P-10: Cangaiba – Est. da Luz; Linha 272N-10: Pq. Novo Mundo – Pq. D. Pedro II; Linha 278A-10: Metrô Santana – Penha; Linha 701A-10: Pq. Edu Chaves – Metrô Vila Madalena


Formado em Arquitetura e Patrimônio Urbano, Flavio tem um interesse especial por cidades e suas histórias. Conhecer e divulgar as atrações e a cultura de um lugar, fazendo com que os seus moradores e visitantes se apropriem, cuidem e desfrutem dele, é um dos seus principais sonhos/objetivos.

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